O Crime do Padre Amaro - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 318 / 478

Isto encantava-a. Àquela ideia da sua cova perfumada de rosas brancas, ficava toda pensativa, num antegosto de felicidades místicas, com suspirinhos de gozo. Afirmava, fazendo beicinho, que queria morrer.

Amaro galhofava.

- A falar da morte, com essas carnezinhas...

Engordara com efeito. Estava agora duma beleza ampla e toda igual. Perdera aquela expressão inquieta que lhe punha nos lábios uma secura e lhe afilava o nariz. Nos seus beiços havia um vermelho quente e húmido; o seu olhar tinha risos sob um fluido sereno; toda a sua pessoa uma aparência madura de fecundidade. Fizera-se preguiçosa: em casa, a cada momento suspendia o seu trabalho, ficava a olhar longamente com um sorriso mudo e fixo; e tudo parecia ficar adormecido um momento, a agulha, o pano que ela costurava, toda a sua pessoa. Estava revendo o quarto do sineiro, o catre, o senhor pároco em mangas de camisa.

Passava os seus dias esperando as oito horas, em que ele aparecia regularmente com o cônego. Mas os serões agora pesavam-lhe. Ele recomendara-lhe muita reserva; ela exagerava-a, por um excesso de obediência, a ponto de nunca se sentar ao pé dele ao chá, e de nem mesmo lhe oferecer bolos. Odiava então a presença das velhas, a gralhada das vozes, as pachorras do quino; tudo lhe parecia intolerável no mundo, exceto estar só com ele... Mas depois, em casa do sineiro, que desforra! Aquele rosto todo alterado, aquelas sufocações de delírio, aqueles ais agonizantes, depois a imobilidade da morte, assustavam às vezes o padre. Erguia-se no cotovelo, inquieto:

- Estás incomodada?

Ela abria os olhos espantados, como ressurgindo de muito longe; e era realmente bela, cruzando os braços nus sobre o peito descoberto, dizendo lentamente com a cabeça que não...





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