O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 359 / 478

O casamento com o escrevente consideravam-no como uma destas necessidades que a sociedade impõe e que sufoca as almas independentes, mas a que a natureza se subtrai pela menor fenda, como um gás irredutível. Diante de Nosso Senhor, o verdadeiro marido de Amélia era o senhor pároco; era o marido da alma, para quem seriam guardados os melhores beijos, a obediência intima, a vontade: o outro teria quando muito o cadáver... Já às vezes mesmo tramavam o plano hábil das correspondências secretas, dos lugares ocultos de rendez-vous...

Amélia estava de novo, como nos primeiros tempos, em todo o fogo da paixão. Diante da certeza que em algumas semanas o casamento ia tornar "tudo branco como a neve", os seus transes tinham desaparecido, o mesmo terror da vingança do Céu calmara-se. Depois, a bofetada que lhe dera Amaro fora como a chicotada que esperta um cavalo que preguiça e se atrasa: e a sua paixão, sacudindo-se e relinchando forte, ia-a de novo levando no ímpeto duma carreira fogosa.

Amaro, esse regozijava-se. Ainda às vezes, decerto, a ideia daquele homem, de dia e de noite com ela, importunava-o... Mas, no fundo, que compensações! Todos os perigos desapareciam magicamente, e as sensações requintavam. Findavam para ele aquelas atrozes responsabilidades da sedução, e ficava-lhe a mulher mais apetitosa.

Instava agora com a Dionísia para que acabasse enfim aquela fastidiosa campanha. Mas a boa mulher, decerto para se fazer pagar melhor pela multiplicidade de esforços, não podia descobrir o tipógrafo - aquele famoso Gustavo que possuía, como os anões de romance de cavalaria, o segredo da torre maravilhosa onde vive o príncipe encantado.

- Oh, senhor! dizia o cónego, isso até já cheira mal! Há quase dois meses à busca dum patife!...





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