O Crime do Padre Amaro - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 36 / 478

O homem das soberbas suíças negras teve um gesto de objeção.

- Não acha? perguntou-lhe o conde.

- Respeito muito a opinião de vossa excelência, mas se me permite... Sim, digo eu, os párocos na cidade são-nos dum grande serviço nas crises eleitorais. Dum grande serviço!

- Pois sim. Mas...

- Olhe vossa excelência, continuou ele, sôfrego da palavra. Olhe vossa excelência em Tomar. Por que perdemos? Pela atitude dos párocos. Nada mais.

O conde acudiu:

- Mas perdão, não deve ser assim; a religião, o clero não são agentes eleitorais.

- Perdão.., queria interromper o outro.

O conde suspendeu-o, com um gesto firme; e gravemente, em palavras pausadas, cheias da autoridade dum vasto entendimento:

- A religião, disse ele, pode, deve mesmo auxiliar os governos no seu estabelecimento, operando, por assim dizer, como freio...

- Isso, isso! murmurou arrastadamente o ministro, cuspindo películas mascadas de charuto.

- Mas descer às intrigas, continuou o conde devagar, aos imbróglios... Perdoe-me meu caro amigo, mas não é dum cristão.

- Pois sou-o, senhor conde, exclamou o homem das suíças soberbas. Sou-o a valer! Mas também sou liberal. E entendo que no governo representativo... Sim, digo eu... com as garantias mais sólidas...

- Olhe, interrompeu o conde, sabe o que isso faz? desacredita o clero, e desacredita a política.

- Mas são ou não as maiorias um princípio sagrado? gritava rubro o das suíças, acentuando o adjetivo.

- São um principio respeitável.

- Upa! upa, excelentíssimo senhor! Upa!

O padre Amaro escutava, imóvel.

- Minha mulher há-de querer vê-lo, disse-lhe então o conde. E dirigindo-se a um reposteiro que levantou: - Entre. É o Sr. padre Amaro, Joana!

Era uma sala forrada de papel branco acetinado, com móveis estofados de casimira clara.





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