O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 360 / 478

Homem, escreventes não faltam. Arranje-se outro!

Mas enfim, uma noite em que ele entrara a descansar em casa do pároco, a Dionísia apareceu; e exclamou logo da porta da sala de jantar, onde os dois padres tomavam o seu café;

- Até que enfim!

- Então, Dionísia?

A mulher, porém, não se apressou: sentou-se mesmo, com licença dos senhores, porque vinha derreada... Não, o senhor cónego não imaginava os passos que se vira obrigada a dar... O maldito tipógrafo lembrava-lhe a história que lhe contavam em pequena, dum veado que estava sempre à vista e que os caçadores a galope nunca alcançavam. Uma perseguição assim!... Mas, finalmente, apanhara-o... E tocadito, por sinal.

- Acabe, mulher! berrou o cónego.

- Pois aqui está, disse ela. Nada!

Os dois sacerdotes olharam-na mistificados.

- Nada quê, criatura?

- Nada. O homem foi para o Brasil!

O Gustavo recebera de João Eduardo duas cartas: na primeira, onde lhe dava a morada, para o lado do Poço do Borratém, anunciava-lhe a resolução de ir para o Brasil; na segunda dizia-lhe que mudara de casa, sem lhe indicar a nova morada, e declarava que pelo próximo paquete embarcava para o Rio; não dizia nem com que dinheiro, nem com que esperanças. Tudo era vago e misterioso. Desde então, havia um mês, o rapaz não tornara a escrever, donde o tipógrafo concluía que ia a essa hora nos altos-mares... - "Mas havemos de vingá-lo!" tinha ele dito a Dionísia.

O cónego remexia pausadamente o seu café, embatocado.

- E esta, padre-mestre? exclamou Amaro, muito branco.

- Acho-a boa.

- Diabo levem as mulheres, e o inferno as confunda! disse surdamente Amaro.

- Amém, respondeu gravemente o cónego.





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