- Eu bem tinha dito a tua mãe que te casasse!
Duas lágrimas saltaram-lhe dos olhos.
- Bem, bem, pequena, não te quero mal por isso. Estás na verdade. A natureza manda conceber, não manda casar. O casamento é uma fórmula administrativa...
Amélia olhava-o, sem o compreender, com as duas lágrimas muito redondinhas a correrem-lhe devagar pela face. Ele bateu-lhe com os dedos no queixo, muito paternal:
- Quero dizer que, como naturalista, regozijo-me. Acho que te tornaste útil à ordem geral das coisas. Vamos ao que importa...
Deu-lhe então conselhos sobre a higiene que devia ter.
- E quando chegar a ocasião, se te vires atrapalhada, manda-me chamar...
Ia descer; Amélia deteve-o, e com uma suplicação assustada:
- Mas o senhor doutor não vai dizer nada na cidade...
O doutor Gouveia parou:
- Então não é estúpida?... Está bom, também to perdoo. Está na lógica do teu temperamento. Não, não digo nada, rapariga. Mas para que diabo, então, não casaste tu com esse pobre João Eduardo? Fazia-te tão feliz como o outro, e já não tinhas de pedir segredo... Enfim, isso para mim é um detalhe secundário... O essencial é o que te disse... Manda-me chamar. Não te fies muito nos teus santos... Eu entendo mais disso que Santa Brígida ou lá quem é. Que tu és forte, e hás-de dar um bom mocetão ao Estado.