O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 424 / 478

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Ele pôs-se sério, e com um tom ressentido:

- Peço perdão... Eu prezo-me de ser um cavalheiro. Tudo isso há-de ficar arranjado antes de voltar para a Vieira...

- Tu não voltas pra Vieira!

- Quem é que diz isso?

- Eu, que não quero que vás!

Pusera-lhe fortemente as mãos nos ombros, retendo-o, apoderando-se dele: e ali mesmo, sem reparar na porta apenas cerrada, abandonou-se-lhe como outrora.

* * *

Dai a dois dias o abade Ferrão apareceu restabelecido do seu ataque de reumatismo. Contou a Amélia a bondade do Morgado, que chegara a mandar-lhe todas as tardes, num aparelho de lata com água quente, uma galinha cozida em arroz. Mas era sobretudo a João Eduardo que devia a caridade melhor; todas as suas horas vagas as passava ao pé da cama, lendo-lhe alto, ajudando-o a voltar, ficando com ele até à uma hora da noite num zelo de enfermeiro. Que rapaz! Que rapaz!

E de repente, tomando as mãos ambas de Amélia, exclamou:

- Diga-me, dá licença que eu lhe conte tudo, que lhe explique?... Que arranje que ele perdoe, e esqueça... E que se faça este casamento, se faça esta felicidade?

Ela balbuciou espantada, toda escarlate:

- Assim de repente... Não sei... Hei-de pensar...

- Pense. E Deus a alumie! disse o velho com fervor.

Era nessa noite que Amaro devia entrar pelo portalzinho do pomar de que Amélia lhe dera a chave. Infelizmente tinham esquecido a matilha do caseiro. E apenas Amaro pôs o pé dentro do pomar rompeu pelo silêncio da noite escura um tão desabrido ladrar de cães - que o senhor pároco abalou pela estrada, batendo o queixo de terror.





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