Então o doutor entrou, muito escarlate, vibrante daquela tremenda batalha que estava dando lá dentro à morte; vinha buscar outro frasco; mas abriu a janela, sem uma palavra, para respirar um momento uma golfada de ar fresco.
- Como vai ela? perguntou o abade.
- Mal, disse o doutor, saindo.
O abade, então, ajoelhou, balbuciou a oração de S. Fulgêncio:
- Senhor, dá-lhe primeiro a paciência, dá-lhe depois a misericórdia...
E ali ficou, com a face nas mãos, apoiado à beira da mesa.
A um rumor de passos na sala ergueu a cabeça. Era a Dionísia, que suspirava, recolhendo todos os guardanapos que encontrava nas gavetas do aparador.
- Então, senhora, então? perguntou-lhe o abade.
- Ai, senhor abade, está perdidinha... Depois das convulsões que foram de arrepiar, caiu naquele sono, que é o sono da morte...
E olhando para todos os cantos como para se assegurar da solidão, disse muito excitada:
- Eu não quis dizer nada... Que o senhor doutor tem um gênio!... Mas sangrar a rapariga naquele estado é querer matá-la... Que ela tinha perdido pouco sangue, é verdade... Mas nunca se sangra ninguém em semelhante momento. Nunca, nunca!
- O senhor doutor é homem de muita ciência...
- Pode ter a ciência que quiser... Eu também não sou nenhuma tola... Tenho vinte anos de experiência... Nunca me morreu nenhuma nas mãos, senhor abade... Sangrar em convulsões? Até causa horror!...
Estava indignada. O senhor doutor tinha torturado a criaturinha. Até lhe quisera administrar clorofórmio...