O Crime do Padre Amaro - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 456 / 478

O sacristão Matias, que dava em latim as respostas rituais, renunciou por ele - enquanto o pobre pequerrucho abria a boquinha a procurar o bico da mama. Enfim o pároco dirigiu-se à pia batismal seguido de toda a família, das velhas devotas que se tinham juntado, de gaiatos que esperavam uma distribuição de patacos. Mas foi toda uma atrapalhação para fazer as unções: a parteira comovida não atinava a desapertar os laçarotes do chambre, para pôr a nu os ombrozinhos, o peito do pequeno; a madrinha quis ajudá-la; mas deixou escorregar a tocha, alastrou de cera derretida o vestido duma senhora, uma vizinha dos Guedes, que ficou embezerrada de raiva.

- Franciscus, credis? - perguntava Amaro.

O Matias apressou-se a afirmar, em nome de Francisco:

- Credo.

- Franciscus, vis baptisari?

O Matias:

- Volo.

Então a água lustral caiu sobre a cabecinha redonda como um melão tenro: a criança agora perneava numa perrice.

- Ego te baptiso, Franciscus, in nomine Patris... et Filiis... et Spiritus Sancti.. .

Enfim, acabara! Amaro correu à sacristia a desvestir-se - enquanto a parteira grave, o papá Guedes, as senhoras enternecidas, as velhas devotas e os gaiatos saíam ao repique dos sinos; e agachados sob os guarda-chuvas, chapinhando a lama, lá iam levando em triunfo Francisco, o novo cristão.

Amaro galgou os degraus de casa com o pressentimento que ia encontrar a Dionísia.

Lá estava, com efeito, sentada no quarto, esperando-o, amarrotada, enxovalhada da luta da noite e da lama da estrada: e apenas o viu começou choramigar.

- Que é, Dionísia?

Ela rompeu em soluços, sem responder.

- Morta! exclamou Amaro.

- Ai, fez-se-lhe tudo, filho, fez-se-lhe tudo! gritou enfim a matrona.





Os capítulos deste livro