O Crime do Padre Amaro - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 457 / 478

Amaro tombou para os pés da cama como morto também.

A Dionísia berrou pela criada. Inundaram-lhe a face de água, de vinagre. Ele recuperou-se um pouco, muito pálido; afastou-as com a mão, sem falar; e atirou-se de bruços para sobre o travesseiro, num choro desesperado, - enquanto as duas mulheres consternadas iam recolhendo à cozinha.

- Parece que tinha muita amizade à menina, começou a Escolástica, falando baixo como na casa dum moribundo.

- Costume de ir por lá. Foi hóspede tanto tempo... Ai, eram como irmãos... - disse a Dionísia, ainda chorosa.

Falaram então de doenças de coração - porque a Dionísia contara à Escolástica que a pobre menina tinha morrido dum aneurisma rebentado. A Escolástica também sofria do coração; mas nela eram flatos, dos maus tratos que lhe dera o marido... Ah, tinha sido bem infeliz também!

- Vossemecê toma uma gotinha de café, Sra. Dionísia?

- Olhe, a falar a verdade, Sra. Escolástica, tomava uma gotinha de jeropiga...

A Escolástica correu à taberna ao fim da rua, trouxe a jeropiga num copo de quartilho debaixo do avental; e ambas à mesa, uma molhando sopas no café, outra escorropichando o copo, concordavam, com suspiros, que neste mundo tudo eram sustos e lágrimas.

Deram onze horas; e a Escolástica pensava em levar um caldo ao senhor pároco, quando ele chamou de dentro. Estava de chapéu alto, com o casaco abotoado, os olhos vermelhos como carvões...

- Escolástica, vá a correr ao Cruz que me mande um cavalo... Mas depressa.





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