O Crime do Padre Amaro - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 46 / 478

- É o mais que se pode, diziam, é o mais que se pode!

Ao sair, beijando muito a S. Joaneira, felicitaram-na porque adquirira, hospedando o pároco, uma autoridade quase eclesiástica.

- Vocês apareçam à noite, disse ela do alto da escada.

- Pudera!... gritou D. Maria da Assunção, já à porta da rua, traçando o seu mantelete. - Pudera!... Para o vermos à vontade!

Ao meio-dia veio o Libaninho, o beato mais ativo de Leiria; e subindo a correr os degraus, já gritava com a sua voz fina:

- Ó S. Joaneira!

- Sobe, Libaninho, sobe, disse ela, que costurava à janela.

- Então o senhor pároco veio, hem? perguntou o Libaninho, mostrando à porta da sala de jantar o seu rosto gordinho cor de limão, a calva luzidia; e vindo para ela com o passinho miúdo, um gingar de quadris:

- Então que tal, que tal? tem bom feitio?

A S. Joaneira recomeçou a glorificação de Amaro: a sua mocidade, o seu ar piedoso, a brancura dos seus dentes...

- Coitadinho! coitadinho! dizia o Libaninho, babando-se de ternura devota. -. Mas não se podia demorar, ia para a repartição! -. Adeus, filhinha, adeus! - E batia com a sua mão papuda no ombro da S. Joaneira. - Estás cada vez mais gordinha! Olha que rezei ontem a Salve-Rainha que tu me pediste, ingrata!

A criada tinha entrado.

- Adeus, Ruça! Estás magrinha: pega-te com a Senhora Mãe dos Homens. - E avistando Amélia pela porta do quarto entreaberta: - Ai, que estás mesmo uma flor, Melinha! Quem se salvava na tua graça bem eu sei!

E apressado, saracoteando-se, com um pigarrinho agudo, desceu a escada rapidamente, ganindo:

- Adeusinho, adeusinho, pequenas!

- Ó Libaninho, vens à noite?

- Ai, não posso, filha, não posso. - E a sua vozinha era quase chorosa. - Olha que amanhã é Santa Bárbara: tem seis Padre-Nossos de direito!

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