O Crime do Padre Amaro - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 56 / 478

Fora a irmã do cônego que não tocara no seu cobre acastelado. João Eduardo disse, curvando-se:

- Parece-me que a Sra. D. Josefa não entrou.

- Eu?! gritou ela, furiosa. Olha uma destas! Até fui a primeira! Credo! Duas moedas de cinco réis, por sinal! Que tal está o homem!

- Ah! bem, disse ele então, fui eu que me esqueci! Cá ponho. - E rosnou: beata e ladra!

E a irmã do cônego dizia no entanto baixo à Sra. D. Maria da Assunção:

- Queria ver se escapava, o melro! Falta de temor a Deus!

- Só quem não está feliz é o senhor pároco, observaram.

Amaro sorriu. Estava distraído, e fatigado; às vezes mesmo esquecia- se de marcar, e Amélia dizia-lhe, tocando-lhe no cotovelo:

- Olhe que não marcou, senhor pároco.

Tinham já apostado dois ternos; ela ganhara; depois faltou a ambos para quinarem o número trinta e seis.

Em roda repararam.

- Ora vamos a ver se quinam ambos, disse a Sra. D. Maria da Assunção, envolvendo-os no mesmo olhar baboso.

Mas o trinta e seis não saía; havia outras quadras nos cartões alheios; Amélia receava que quinasse a Sra. D. Joaquina Gansoso, que se mexia muito na cadeira, pedindo o quarenta e oito. Amaro ria, involuntariamente interessado.

O cônego tirava os números com uma pachorra maliciosa.

- Vá! vá! Ande com isso, senhor cônego! diziam-lhe.

Amélia, debruçada, os olhos vivos, murmurou:

- Dava tudo para que saísse o trinta e seis!

- Sim? Aí o tem... Trinta e seis! disse o cônego.

- Quinamos! gritou ela, triunfante; e, tomando o cartão do pároco e o seu mostrava-os, para conferirem, orgulhosa, muito corada.

- Ora Deus os abençoe, disse o cônego, jovial, entornando-lhes diante o pires cheio de moedas de dez réis.

- Parece milagre! considerou a Sra. D. Maria da Assunção, piedosamente.





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