O Crime do Padre Amaro - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 6 / 478

O que é necessário é que a casa seja respeitável, sossegada, central, que a patroa tenha bom gênio e que não peça mundos e fundos; deixo tudo isto à sua prudência e capacidade, e creia que todos estes favores não cairão em terreno ingrato. Sobretudo que a patroa seja pessoa acomodada e de boa língua."

- Ora a minha ideia, amigo Mendes, é esta: metê-lo em casa da S. Joaneira! resumiu o cônego com um grande contentamento. É rica ideia, hem!

- Soberba ideia, disse o coadjutor com a sua voz servil.

- Ela tem o quarto de baixo, a saleta pegada e o outro quarto que pode servir de escritório. Tem boa mobília, boas roupas...

- Ricas roupas, disse o coadjutor com respeito.

O cônego continuou:

- É um belo negócio para a S. Joaneira: dando os quartos, roupas, comida, criada, pode muito bem pedir os seus seis tostões por dia. E depois sempre tem o pároco de casa.

- Por causa da Ameliazinha é que eu não sei - considerou timidamente o coadjutor. - Sim, pode ser reparado. Uma rapariga nova... Diz que o senhor pároco é ainda novo... Vossa senhoria sabe o que são línguas do mundo.

O cônego tinha parado:

- Ora histórias! Então o padre Joaquim não vive debaixo das mesmas telhas com a afilhada da mãe? E o cônego Pedroso não vive com a cunhada, e uma irmã da cunhada, que é uma rapariga de dezanove anos? Ora essa!

- Eu dizia... atenuou o coadjutor.

- Não, não vejo mal nenhum. A S. Joaneira aluga os seus quartos, é como se fosse uma hospedaria. Então o secretário-geral não esteve lá uns poucos de meses?

- Mas um eclesiástico... insinuou o coadjutor.

- Mais garantias, Sr. Mendes, mais garantias! exclamou o cônego. E parando, com uma atitude confidencial: - E depois a mim é que me convinha, Mendes! A mim é que me convinha, meu amigo!





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