- O pai vai estar lá? - perguntou ela. John voltou-se para ela espantado.
- O teu pai morreu - replicou melancólico.
- Porque havia ele de ir para Hades? Confundiste com outro lugar que já desapareceu há muito tempo.
Depois de comerem, dobraram a toalha e estenderam os cobertores para passarem a noite.
- Que sonho que foi tudo - suspirou Kismine olhando para as estrelas. - Que estranho parece estar aqui, só com um vestido e com um noivo sem cheta!
- Debaixo das estrelas - repetiu ela. - Nunca tinha reparado nas estrelas. Pensava sempre nelas como grandes diamantes que pertenciam a alguém. Agora assustam-me. Fazem-me sentir que foi tudo um sonho, toda a minha juventude.
- E foi um sonho - disse John calmamente.
- A juventude de todos nós é um sonho, uma forma de loucura química.
- Então que bom é estar louco!
- Foi o que ouvi dizer - disse John sombrio.
Já não sei nada. De qualquer modo, amemo-nos por uns tempos, talvez um ano, tu e eu. É uma forma de divina embriaguez que todos podemos experimentar. Só há diamantes em todo o mundo, diamantes e talvez o pobre dom da desilusão. Bom, este tenho-o eu e vou fazer dele o «nada» habitual. - Teve um arrepio. - Sobe a gola do teu casaco, pequenina, a noite está fria e podes apanhar uma pneumonia. Foi um grande pecador quem inventou a consciência. Vamos perdê-la por algumas horas.
E, enrolando-se no cobertor, preparou-se para dormir.