Na vida de Anson havia tantos amigos - nem um a quem ele não tivesse feito qualquer favor fora do comum, ou a quem não tivesse atrapalhado com as suas explosões de conversas grosseiras, ou pelo seu hábito de se embebedar como e quando lhe apetecia.
Ficava irritado quando qualquer outra pessoa disparatava nesse aspecto. Quanto aos seus próprios disparates era sempre indulgente. Estranhas coisas lhe aconteceram e ele contava-as com gargalhadas contagiosas.
Nessa Primavera eu estava a trabalhar em Nova Iorque e costumava almoçar com ele no Yale Club, de que a minha universidade se servia até ter o seu próprio. Eu já sabia do casamento de Paula e uma tarde, quando lhe perguntei por ela, algo o levou a contar-me a história. Depois disso convidava-me frequentemente para jantares familiares em casa dele e comportava-se como se houvesse entre nós relações especiais, como se, pela sua confiança, um pouco dessas recordações amargas passasse para mim.
Eu achava que, apesar das mães confiarem nele, a sua atitude para com as raparigas nem sempre era protectora. Dependia da rapariga: se ela se mostrava inclinada a certas liberdades, cabia-lhe a ela tomar conta de si própria, mesmo em relação a ele.
- A vida - explicava por vezes - tornou-me cínico.
Com «vida» queria ele dizer Paula. Às vezes, especialmente quando bebia, tudo se confundia na sua cabeça e convencia-se de que ela o pusera de parte com indiferença.
Este «cinismo», ou antes a sua convicção de que as raparigas fáceis não deviam ser poupadas, levou-o ao romance com Dolly Karger.