A Década Perdida - Cap. 3: O MENINO RICO Pág. 124 / 182

Mas quando, ainda por cima, Anson recusou entrar na firma de corretagem conservadora e um tanto desprezada de Robert Hunter, o seu trato tornou-se mais frio. Tal como um professor que já tivesse ensinado tudo quanto sabia, saiu da vida de Anson.

Na vida de Anson havia tantos amigos - nem um a quem ele não tivesse feito qualquer favor fora do comum, ou a quem não tivesse atrapalhado com as suas explosões de conversas grosseiras, ou pelo seu hábito de se embebedar como e quando lhe apetecia.

Ficava irritado quando qualquer outra pessoa disparatava nesse aspecto. Quanto aos seus próprios disparates era sempre indulgente. Estranhas coisas lhe aconteceram e ele contava-as com gargalhadas contagiosas.

Nessa Primavera eu estava a trabalhar em Nova Iorque e costumava almoçar com ele no Yale Club, de que a minha universidade se servia até ter o seu próprio. Eu já sabia do casamento de Paula e uma tarde, quando lhe perguntei por ela, algo o levou a contar-me a história. Depois disso convidava-me frequentemente para jantares familiares em casa dele e comportava-se como se houvesse entre nós relações especiais, como se, pela sua confiança, um pouco dessas recordações amargas passasse para mim.

Eu achava que, apesar das mães confiarem nele, a sua atitude para com as raparigas nem sempre era protectora. Dependia da rapariga: se ela se mostrava inclinada a certas liberdades, cabia-lhe a ela tomar conta de si própria, mesmo em relação a ele.

- A vida - explicava por vezes - tornou-me cínico.

Com «vida» queria ele dizer Paula. Às vezes, especialmente quando bebia, tudo se confundia na sua cabeça e convencia-se de que ela o pusera de parte com indiferença.

Este «cinismo», ou antes a sua convicção de que as raparigas fáceis não deviam ser poupadas, levou-o ao romance com Dolly Karger.





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