Pelo hall da casa dos Buchanan soprava um vento leve, trazendo o toque do telefone até à porta, onde Gatsby e eu esperávamos:
- O corpo do patrão? - berrou o mordomo para o bocal. - Lamento muito, minha senhora, mas não podemos fornecê-lo... com um calor destes ao meio-dia, nem se lhe pode tocar!
O que, na realidade, ele dizia, era: «Sim... Sim... Eu vou ver.»
Pousou o auscultador e encaminhou-se para nós, com um vago ar de satisfação, para pegar nos nossos rígidos chapéus de palha.
- A senhora espera-os no salão! - exclamou, indicando desnecessariamente o caminho. Com este calor, qualquer gesto a mais era uma afronta às reservas comuns da vida.
A sala, bem protegida do sol pelos toldos das janelas, estava sombria e fresca. Daisy e Jordan, deitadas, como ídolos de prata, num sofá enorme, retinham os seus vestidos brancos contra a melodiosa brisa das ventoinhas.
- Não podemos mexer-nos! - disseram ao mesmo tempo.
Os dedos de Jordan, cobertos. de pó-de-arroz, assentaram por um instante nos meus.
- Que é feito do senhor Thomas Buchanan, o atleta? - indaguei.
E simultaneamente ouvi-lhe a voz rude, abafada e roufenha, ao telefone, no hall.
Gatsby ficou no meio do tapete carmesim, a olhar em torno, fascinado.
Daisy observava-o e ria-se, com aquele seu riso doce e excitante; uma minúscula nuvem de pó-de-arroz soltou-se-lhe do seio para o ar.
- Parece que é a namorada de Tom que está ao telefone - sussurrou Jordan.
Ficámos calados. No hall, a voz ergueu-se num tom irritado:
- Muito bem, nesse caso não lhe vendo o carro... Não lhe devo qualquer espécie de favor... e esta coisa de me vir incomodar com isso à hora do almoço, tem de acabar!
- Isso mesmo, desliga-lhe o telefone! - disse Daisy com cinismo.