O incidente e o nome tinham ficado associados no meu espírito.
Jordan Baker evitava, instintivamente, os homens espertos, perspicazes, e só agora eu percebia que isso se devia ao facto de ela se sentir mais segura num plano onde se julgaria impossível qualquer transgressão de um código de conduta. Era incuravelmente desonesta. Não conseguia tolerar estar em posição de desvantagem e, dada esta relutância, suponho que desde muito cedo começara a usar de subterfúgios para poder manter aquele sorriso frio e insolente voltado para o mundo e ao mesmo tempo satisfazer as exigências do seu corpo sólido e enérgico.
Pessoalmente, não me fazia diferença alguma. A desonestidade numa mulher é uma coisa que nunca se censura profundamente - lamentei no momento e depois esqueci. Foi nessa mesma festa familiar que tivemos uma interessante conversa acerca da condução de automóveis. Começou porque ela passou tão rente a uns operários que à guarda-lama raspou um botão do casaco de um dos homens.
- Você é mesmo desastrada a conduzir! - protestei eu. Ou passa a ter mais cautela, ou pura e simplesmente deixa de conduzir.
- Mas eu sou cautelosa!
- Isso é que não é!
- Então são os outros! - disse ela levianamente.
- E que é que uma coisa tem a ver com a outra?
- Terão o cuidado de se afastar do meu caminho - insistiu. - Para haver um acidente, é preciso haver duas partes.
- Imagine que encontra alguém tão imprudente como você!
- Espero que isso nunca aconteça - respondeu. - Detesto pessoas imprudentes. É por isso que gosto de si!
Os seus olhos cinzentos, enrugados do sol, olharam fixamente em frente, mas ela tinha deliberadamente alterado as nossas relações e por momentos julguei que a amava.