Noites Brancas - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 42 / 67

— Ah, Nastenka! Agradecemos por vezes às pessoas o que connosco vivem, não é verdade? Eu agradeço-lhe só por a ter conhecido, da recordação que deixará em toda a minha vida.

— Bem, chega, chega! Por ora, veja, escute-me: como lhe disse, fora combinado que, mal ele chegasse, me assinalaria a sua chegada deixando uma carta num certo local, em casa de amigos meus, pessoas boas e simples que nada sabem de tudo isto; ou então que, caso não tivesse maneira de me escrever, pois há muita coisa que não pode ser dita numa carta, viria aqui, no próprio dia, precisamente às dez horas, pois este foi o local onde nos decidimos encontrar. Da sua chegada já tenho conhecimento, mas decorrem já três dias e nem escreve nem aparece. Pela manhã é-me impossível deixar a avó. Entregue o senhor mesmo a minha carta a essa boa gente de que já lhe falei; eles fá-lo-ão chegar até ele e, caso haja uma resposta, trar-ma-á à noite, às dez horas.

— Mas... e a carta? Primeiro que tudo, é preciso escrevê-la: tudo isso só poderá fazer-se depois de amanhã.

— A carta... — respondeu Natenska, um pouco embaraçada —a carta..., mas...

Não chegou a acabar, pois antes disso desviou de mim o seu roseozinho, ficou vermelha como uma rosa e, subitamente, senti na mão uma carta, visivelmente escrita há muito tempo, pronta e lacrada. Uma recordação graciosa, amável e conhecida, atravessou-me o espírito.

«Ro—Rosi—sine—ne», comecei.

«Rosine!», cantamos ambos, eu quase a enlaçando no meu entusiasmo, ela corando tanto quanto podia corar e rindo através das lágrimas que tremulavam como pérolas suspensas dos seus cílios negros.





Os capítulos deste livro