Noites Brancas - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 45 / 67

Quando ela viu que ele não chegava, que esperáramos em vão, então entristeceu, ficou tímida e receosa. Todos os seus gostos, todas as suas palavras, se tornaram menos naturais, menos joviais e menos alegres. E, coisa estranha, as suas atenções por mim redobraram, como se tivesse instintivamente querido derramar sobre mim o que desejava para si própria, o que começava a temer que não se realizasse. A minha Nastenka estava agora de tal modo tímida e amedrontada que me parece que compreendera, finalmente e sé nessa altura, que eu sofria e que a amava, apiedando-se do meu pobre amor. Na verdade, quando estamos infelizes, sentimos com maior violência a infelicidade dos outros; o sentimento não se destrói, concentra-se...

Eu viera com o coração aberto, contando as horas que faltavam para o encontro. Nem sequer admitia que hoje iria ficar deprimido, que tudo acabaria de uma maneira diferente da habitual.

Ela resplandecia de felicidade, esperava ansiosamente a resposta, e a resposta era ele próprio. Ele ia chegar, acorrer ao seu apelo. Nastenka viera antes de mim, uma boa hora antes. Primeiro, explodiu em gargalhadas ao mínimo pretexto, qualquer palavra minha lhe provocava o riso. Comecei a falar e depois calei-me.

— Sabe por que razão estou hoje tão contente — perguntou —, tão contente por o ver? Porque gosto tanto de si hoje?

— Diga lá — pedi, e o meu coração batia descompassadamente.

— Gosto de si porque o senhor não se apaixonou por mim. Outro, no seu lugar, importunar-me-ia, insistiria, suspiraria, desfaleceria; o senhor, pelo contrário, é tão gentil!...

Nesta altura, apertou a minha mão com tanta força que quase dei um grito. Riu-se.





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