Homenagem à Catalunha - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 130 / 193

Deve ter sido uns três dias após as lutas em Barcelona que regressamos à linha de frente. Depois daquela luta - e de modo mais particular após a troca de impropérios nos jornais - tornara-se difícil pensar naquela guerra do mesmo modo ingenuamente idealista de antes. Acredito que não exista quem tenha passado mais de algumas semanas na Espanha sem ficar desiludido, em grau maior ou menor. Meu espírito voltava ao correspondente de jornal com quem estivera no meu primeiro dia de Barcelona, e que me dissera: "Esta guerra é uma negociata igualzinha a qualquer outra", A observação me chocara profundamente, e naquela ocasião (dezembro) não acredito que fosse verdadeira, e tampouco o era mesmo agora, em maio, mas tornava-se mais e mais verídica a cada dia. O fato é que toda guerra sofre um tipo de deterioração gradativa a cada mês, pois coisas como a liberdade individual e a imprensa veraz simplesmente não são compatíveis com a eficiência militar.

Podia-se agora começar a calcular o que deveria acontecer. Era fácil ver que o Governo de Caballero seria derrubado e substituído por um outro Governo mais direitista, com influência comunista mais acentuada (o que ocorreu uma ou duas semanas depois), que partiria à destruição do poder dos sindicatos, de uma vez por todas. E em seguida, quando Franco estivesse derrotado - e pondo-se de lado os problemas imensos criados pela reorganização da Espanha - a perspetiva não era das melhores. Quanto às afirmações dos jornais, de que aquela era uma "guerra pela democracia", eram pura cortina de fumaça. Ninguém com lucidez supunha haver qualquer esperança para a democracia, mesmo como a entendemos na Inglaterra ou França, num pais tão dividido e esgotado quanto estaria a Espanha ao encerramento do conflito. Teria de ser uma ditadura, tornando-se claro que a possibilidade de uma ditadura pela classe trabalhadora já fora ultrapassada. Isso significava que o movimento geral seria na direção de algum tipo de fascismo. Fascismo batizado, naturalmente, com nome mais bem educado - por estarmos na Espanha - e mais humano e menos eficiente do que as variedades alemã ou italiana. As únicas alternativas eram uma ditadura infinitamente pior, de Franco, ou (o que sempre era possível) que a guerra terminaria com a Espanha dividida, quer por fronteiras verdadeiras, ou em zonas econômicas.

Qualquer que fosse a solução, a perspetiva mostrava-se deprimente, mas daí não se seguia que o Governo deixasse de merecer defesa contra o fascismo mais descarado e desenvolvido de Franco e Hitler. Quaisquer que fossem os defeitos do Governo pós-guerra, o regime de Franco certamente seria pior. Para os trabalhadores - o proletariado urbano - poderia haver pouquíssima diferença em quem vencesse, mas a Espanha é país primordialmente agrícola e os camponeses quase com certeza seriam beneficiados pela vitória do Governo.





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