Homenagem à Catalunha - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 158 / 193

O que tínhamos a fazer era evitar estar por perto dos edifícios do P.O.U.M. e não ir aos cafés e restaurantes cujos garçons nos conhecessem de vista. Passei bastante tempo naquele dia, e no seguinte, tomando banho num dos banheiros públicos, o que me pareceu bom meio de passar o tempo e ficar fora de circulação. Infelizmente a mesma ideia ocorreu a muita gente, e alguns dias depois - quando eu já deixara Barcelona - a polícia invadiu um dos banheiros públicos e prendeu bom número de "trotskistas" inteiramente pelados.

Em meio à Ramblas encontrei um dos feridos do Sanatório Maurín, e trocamos aquele tipo de piscadela invisível que as pessoas usavam na ocasião, e conseguimos de modo disfarçado encontrar um café mais além naquela rua. Ele escapara à prisão quando o sanatório fora vasculhado mas, como os outros, fora tocado para as ruas. Estava em mangas de camisa - tivera de fugir sem a jaqueta - e não dispunha de dinheiro algum. Descreveu-me como um dos Guardas Civis rasgara o grande retrato colorido de Maurín, que se encontrava na parede do sanatório, e depois o reduzira a pedaços mediante pontapés. Maurin (um dos fundadores do P.O.U.M.) era prisioneiro dos fascistas, e naquela época acreditava-se que fora fuzilado por eles.

Encontrei minha mulher no consulado britânico às dez horas, e McNair e Cottman surgiram pouco depois disso. A primeira notícia que me deram foi a de que Bob Smillie morrera. Isso acontecera numa prisão em Valência, e ninguém sabia com certeza qual fora a causa de sua morte. Sepultaram-no imediatamente, e o representante da I. L. P. no lugar, David Murray, não tivera permissão para ver o cadáver.

Está claro que imaginei, no mesmo instante, que Smillie fora fuzilado. Era o que todos acreditavam na época, mas mudei de opinião. Mais tarde a causa de sua morte era dada como apendicite, e soubemos de outro prisioneiro, que fora posto em liberdade, que realmente Smillie adoecera na prisão. Talvez a história de apendicite fosse verídica, devendo-se a um capricho malévolo a recusa a que Murray visse o corpo. Tenho a dizer, no entanto, que Bob Smillie era um moço com apenas vinte e dois anos e fisicamente uma das criaturas mais rijas que conheci. Acredito que fosse o único homem, entre os que conheci, espanhol ou inglês, que permaneceu três meses nas trincheiras sem adoecer um só dia. Gente rija assim não morre de apendicite, se receber cuidados adequados.





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