- Não disparem isso! - alertei em tom meio sério e meio patusco, enquanto acertava o foco da máquina fotográfica.
- Ora, não! Não vamos disparar!
No momento seguinte ouvi um estrondo assustador, e um jato de balas passou tão perto de meu rosto que fiquei com a face crivada de grãos de cordite. A coisa não fora intencionalmente feita, mas os metralhadores acharam imensa graça no caso. Poucos dias antes, no entanto, tinham visto um tropeiro ser acidentalmente baleado por um delegado político que estava brincando com uma pistola automática e que pusera cinco balas nos pulmões do tropeiro.
As senhas difíceis que o exército utilizava nessa época constituíam outra fonte de perigo, embora menor. Eram aquelas senhas duplas cansativas, nas quais uma palavra devia ser respondida por outra. Via de regra senha e contra-senha eram palavras de calibre elevado e revolucionário, tais como Cultura - progresso, ou Seremos - invencibles, e muitas vezes mostrava-se impossível fazer com que as sentinelas analfabetas recordassem tais expressões altissonantes. Certa noite, ainda me lembro, a senha era Cataluña e a contra-senha eroica, e um rapaz do campo, chamado Jaime Domenech, aproximou-se de mim com expressão perplexa e pediu explicações.
- Eroica... Que quer dizer eroica?
Disse-lhe que a palavra tinha o mesmo significado que valiente, e pouco depois disso ele tropeçava na trincheira, em meio à escuridão, e a sentinela bradava:
- Alto! Cataluña!
- Valiente! - berrou Jaime, crente que estava dizendo a coisa certa.
Bang!
Mas a sentinela errou o tiro. Naquela guerra todos erravam os outros, sempre que humanamente possível.