O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 52 / 279

- Pois bem! - gritou asperamente a senhora Vauquer com uma voz que dominou o ruído das colheres, dos pratos e das vozes. - Acha que o pão não está bom?

- Pelo contrário, senhora - respondeu este -, é feito com farinha de Etampes, de primeira qualidade.

- Como consegue ver isso? - perguntou Eugène.

- Pela cor, pelo sabor.

- Pelo sabor do nariz, visto estar a cheirá-lo - disse a senhora Vauquer. - Está a tomar-se tão económico que acabará por encontrar meio de alimentar-se cheirando apenas o ar da cozinha.

-Tirai então um curso de invenções - gritou o empregado -, faria bom dinheiro.

- Deixai lá isso, ele só fez isso para nos convencer de que foi fabricante de aletria - disse o pintor.

- O seu nariz é, então, uma extravagância - perguntou ainda o empregado do Museu de História Natural. - Extra quê? - perguntou Bianchon.

- Extragailha.

- Extraguna.

- Extralina.

- Extranicha.•

- Extranoncha.

- Extraneau.

- Extravac.

- Extranorama.

Estas oito respostas saíram de todos os lados da sala com a rapidez de uma mecha ateada e provocaram tanto o riso, visto que ainda por cima o pobre pai Goriot olhava os convidados com um ar estúpido, como um homem que tenta compreender uma língua estrangeira.

- Extra? - disse a Vautrin que estava sentado junto dele.

- Extra aos pés, meu velho! - disse Vautrin, dando-lhe uma palmada na cabeça que lhe enfiou o chapéu até aos olhos.

O pobre velho, surpreendido com este ataque brusco, ficou durante uns momentos imóvel. Christophe levou o prato do velhote, pensando que ele já tinha acabado a sopa, de tal forma que, quando Goriot, após ter composto o chapéu, pegou na colher, bateu na mesa. Todos os convivas desataram a rir.

. - O senhor - disse o velho -, é um engraçadinho bastante malvado e se ousa mais uma vez bater-me desta forma.





Os capítulos deste livro