Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 34 / 273

- Os bispos da Irlanda não nos traíram, no tempo da União, quando o bispo Lanigan fez um discurso de submissão à marquesa da Cornualha? Os bispos e os padres não venderam as aspirações do seu país em 1829, em troca da emancipação católica? Não denunciaram o movimento dos Fenianos! do seu púlpito e no confessionário? E não profanaram as cinzas de Terence Bellew MacManus?

O seu rosto avermelhou-se de fúria e Stephen sentiu as próprias faces corarem, excitado pelas suas palavras. Mr. Dedalus soltou uma gargalhada de rude desprezo.

- Oh, meu Deus, quase me esquecia do velho Paul Cullen!

Mais uma menina dos olhos de Deus!

Dante inclinou-se sobre a mesa e gritou a Mr. Casey:

- Tinham razão! Tinham razão! Eles sempre tiveram razão!

Deus e a moralidade e a religião estão sempre em primeiro lugar.

Mrs. Dedalus, notando a sua excitação, disse-lhe:

- Mrs. Riordan, não se dê ao trabalho de lhes responder.

- Deus e a religião em primeiro lugar! - exclamou Dante. - Deus e a religião antes do mundo.

Mr. Casey ergueu o punho fechado e deixou-o cair sobre a mesa, com estrondo.

- Muito bem, então - gritou com voz rouca. - Se é assim, não queremos Deus na Irlanda!

- John! John! - exclamou Mr. Dedalus, agarrando o seu convidado pela manga da sobrecasaca.

Dante fitava o outro lado da mesa, com as bochechas a tremer.

Mr. Casey levantou-se com esforço da cadeira e inclinou-se sobre a mesa, na direcção dela, agitando o ar diante dos olhos com uma das mãos, como se afastasse uma teia de aranha.

- A Irlanda não precisa de Deus! - exclamou ele. - Há excesso de Deus na Irlanda. Fora com Deus!

- Blasfemo! Demónio! - exclamou Dante, pondo-se de pé e quase lhe cuspindo na cara.

O tio Charles e Mr.





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