Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 4 / 273

Pôs-se a pensar de que janela Hamilton Rowan teria atirado o seu chapéu para a vala e se, nessa altura, já haveria canteiros de flores por baixo das janelas. Certo dia, em que fora chamado ao castelo, o mordomo mostrara-lhe as marcas das balas dos soldados na madeira da porta e dera-lhe um biscoito dos que a comunidade comia. Era bonito e aconchegante ver as luzes acesas no castelo. Parecia coisa de um livro. Talvez a Abadia de Leicester fosse assim. E o Manual de Ortografia do doutor Cornwell continha frases bem bonitas. Pareciam poesia, mas eram apenas frases destinadas a ensinar ortografia.

Wolsey morreu na Abadia de Leicester,
Onde os abades o enterraram.
As pragas são doenças das plantas,
A peste é doença dos animais.

Como seria bom estender-se no tapete diante da lareira, com as mãos por baixo da cabeça, a pensar naquelas frases. Estremeceu como se sentisse água fria e viscosa junto da pele. Tinha sido indecente da parte do Wells empurrá-lo para o fosso só porque não tinha querido trocar a sua pequena caixa de rapé pelo bastão de carvalho bem seco de Wells, vencedor de quarenta batalhas. Como a água estava fria e viscosa! Um dos rapazes tinha visto, um dia, uma ratazana saltar para o meio da espuma. A mãe devia estar sentada junto da lareira, com a Dante, à espera que a Brigid lhes levasse o chá. Costumava apoiar os pés no guarda-fogo e as pantufas bordadas ficavam muito quentes e deitavam um cheiro agradável e tépido!

A Dante sabia muita coisa. Tinha-lhe ensinado onde ficava o canal de Moçambique e qual era o rio mais longo da América e qual era o nome da montanha mais alta da Lua. O padre Arnall sabia mais do que a Dante, porque era padre, mas tanto o seu pai como o tio Charles diziam que a Dante era uma mulher inteligente e instruída.