As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 180 / 339

Durante a sessão de quatro horas escrevi, em coluna, longas listas de palavras com a tradução ao lado. Também encontrei o método de aprender algumas frases curtas, enquanto o meu professor ordenava a um dos criados que trouxesse algo, que desse meia-volta, que se inclinasse ou se sentasse, que ficasse de pé, caminhasse e outras coisas deste género. Na sequência de cada um desses casos escrevia a frase. Também me mostrou num dos seus livros desenhos do Sol, da Lua e das estrelas, o zodíaco, os trópicos, os círculos polares, tal como o nome de diversas figuras de geometria plana e no espaço. Indicou-me todos os instrumentos musicais e os termos técnicos relacionados com esta arte. Quando concluiu a sessão, classifiquei por ordem alfabética as palavras nos dois idiomas. Graças a este método e à minha boa memória, pude compreender, em poucos dias, os rudimentos desta língua.

A palavra que traduzo por Flutuante ou Ilha Flutuante corresponde a Laputa no original, cuja verdadeira etimologia fui incapaz de descobrir. Lap é um arcaísmo e significa «alto»; e untuh equivale a «governador»; a forma Laputa é uma corruptela de Lapuntuh. Mas tenho dúvidas sobre esta interpretação, que me parece um tanto forçada. Atrevi-me a apresentar aos eruditos nativos uma explicação pessoal: Laputa era quasi Lap outed. Lap significava exactamente «a reverberação da luz solar no mar», e outed «uma asa». Mas não garanto esta etimologia: submeto-a ao juízo do leitor.

Os conselheiros reais que estavam junto a mim observaram o mau estado do meu vestuário e mandaram chamar um alfaiate para tirar medidas e fazer-me um traje. Este especialista utilizava procedimentos diferentes dos usuais na Europa.





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