As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 238 / 339

Depois de cerca de duzentos anos de esforços em tal sentido, com espírito de poupança e com boa administração, ter-me-ia tornado o homem mais rico do reino. Em segundo lugar, dedicar-me-ia desde muito jovem ao estudo das letras e ciências a fim de, com o tempo, ultrapassar todos em sabedoria. Por fim, anotaria com cuidado todos os factos e acontecimentos importantes da política, analisaria de modo imparcial a personalidade dos diferentes príncipes e grandes ministros do Estado, acrescentando em todos os casos os meus comentários pessoais. Anotaria com precisão as diversas mudanças de costumes, linguagem, vestuário, alimentação e divertimentos. Com todos estes contributos tornar-me-ia certamente no oráculo da nação, num tesouro vivo de saber e prudência.

Não me voltaria a casar depois dos sessenta e procuraria ser hospitaleiro sem exceder-me. Dedicar-me-ia a educar e dirigir as mentes de jovens prometedores, convencendo-os, graças às minhas recordações, vivências e experiências apoiadas em numerosos exemplos, de quão útil é a prática da virtude, tanto na vida pública como privada. Mas a escolha dos meus companheiros predilectos recairia num grupo de doze imortais como eu, escolhidos desde os mais antigos até aos meus próprios contemporâneos. Se algum deles carecesse de fortuna, proporcionar-lhe-ia alojamento adequado na minha própria casa; à minha mesa estariam sempre presentes alguns. Só teriam acesso a mim alguns dos mortais que fossem interessantes: com o passar do tempo ficaria calejado, encarando a sua morte com total indiferença. De igual forma trataria as gerações seguintes, com a alegria de ver brotar, em cada ano, os cravos e as tulipas nos jardins, sem deplorar o desaparecimento das flores murchas do ano anterior.





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