As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 296 / 339

O meu amo continuou a comentar que não havia coisa que tornasse os yahoos tão repugnantes como a sua indiscriminada voracidade em ingerir tudo o que encontravam, fossem ervas, raízes, bagas, cadáveres de animais, ou tudo à mistura; e era típico da sua maneira de ser preferirem comida roubada aos alimentos de muito melhor qualidade que lhes eram fornecidos em casa. Se a presa era volumosa, comiam até quase rebentar; depois, o seu instinto levava-os a procurar determinadas raízes que provocavam uma evacuação completa.

Havia também outras espécies de raízes muito sumarentas, embora raras e difíceis de localizar, que os yahoos procuravam com avidez e chupavam com extremo deleite. Provocavam-lhes o mesmo efeito que o vinho entre nós: umas vezes abraçavam-se; outras combatiam-se; vociferavam, gesticulavam, tagarelavam, cambaleavam, caíam e ficavam a dormir na lama.

Comprovara pessoalmente que os yahoos eram os únicos animais deste país que contraíam enfermidades. Estas não são sequer tão numerosas como as dos cavalos no nosso país e nunca são causadas por maus tratos, mas unicamente pela sujidade e pela sofreguidão destes sórdidos animais. A língua do país utiliza apenas um termo genérico que deriva do nome deste animal: hnea-yahoo ou o mal do yahoo; o tratamento prescrito consiste em introduzir, pela força, na garganta de um yahoo um preparado à base da própria urina e dos excrementos. Ouvi comentar com frequência que esta medicação surte excelentes resultados. Sugiro mesmo que os meus compatriotas a utilizem em prol do bem comum, como notável remédio contra as doenças provocadas pelos excessos.

Quanto ao saber, à política, à arte, à indústria, etc., reconhecia o meu amo que pouco ou nada havia de semelhante entre os yahoos do seu e do meu país. Queria apenas mencionar os pontos comuns à nossa natureza.





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