As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 305 / 339

Para efeitos de casamento seleccionam cuidadosamente as cores de forma a que a descendência não tenha uma pele desagradável. Aprecia-se, sobretudo, a força no macho e a beleza na fêmea, não por motivos amorosos, mas para se impedir que a raça degenere. Quando acontece que a forte é a mulher, escolhe-se um consorte bonito. Namoro, amor, dote, uniões, acordos, são noções alheias ao seu pensamento, e a sua língua não dispõe dos termos correspondentes. Os casais jovens constituem-se e unem-se simplesmente porque os pais e os amigos assim o decidiram. Isto é uma coisa vulgar e que se considera indispensável num ser racional.

Jamais se ouviram comentários sobre a ruptura de um laço conjugal ou sobre qualquer falta contra a castidade. Os casados passam a sua vida em mútua amizade e bem-querer, sentimentos que repartem com todos os da sua espécie, sem inveja nem ternura, sem discussões nem descontentamento.

O seu método educativo para a juventude de ambos os sexos é admirável e merece a mais profunda imitação. Não é permitido a estes provarem um grão de aveia, salvo em dias assinalados, até que cumpram dezoito anos, nem leite, senão raras vezes. Durante o Verão, pastam duas horas de manhã e outras tantas pela tarde; os pais cumprem o mesmo horário. Mas os criados não podem ultrapassar metade deste tempo; grande parte da erva é levada para casa e comem-na ali em momentos adequados, quando estão mais livres.

A sobriedade, diligência, exercício e limpeza são virtudes que se inculcam por igual aos jovens de ambos os sexos. O meu dono qualificou de monstruosa a educação discriminada que dávamos às nossas mulheres, excepto no que se refere ao governo da casa. Por consequência, como muito justamente observou, metade das nossas congéneres não serviam para nada a não ser ficarem grávidas.





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