As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 324 / 339

Ao quarto dia, de madrugada, aventurei-me talvez demasiadamente pois, a cerca de quinhentas jardas de onde me encontrava, avistei uns vinte ou trinta nativos numa elevação. Estavam completamente nus, homens, mulheres e crianças, em volta de uma fogueira, segundo deduzi pelo fumo. Um deles viu-me e avisou os outros. Cinco vieram na minha direcção, deixando junto à fogueira as mulheres e as crianças. Fugi para a costa o mais depressa que pude, subi para a canoa e afastei-me. Mas aqueles selvagens, ao ver-me em fuga, lançaram-se no meu encalce e, antes que conseguisse meter-me mar fora, dispararam uma flecha que me provocou uma profunda ferida no joelho esquerdo (levarei esta cicatriz para a tumba). Receei que a flecha estivesse envenenada. Como não havia vento, remei até estar fora do alcance das flechas, consegui sugar a ferida e tratá-la na medida do possível.

Não sabia que fazer. Não me atrevia a regressar à margem; se metia para norte, teria que remar, uma vez que a brisa, ainda que ligeira, me era contrária, pois soprava de noroeste. Procurava um lugar adequado para desembarcar quando avistei a nor-nordeste uma vela que parecia aumentar. Durante uns momentos hesitei quanto a esperar ou não. Mas finalmente prevaleceu a minha aversão pela raça de yahoos e, virando a canoa, icei a vela e voguei em direcção a sul até atingir a mesma angra de onde saíra de manhã, preferindo entregar-me a estes selvagens que a viver com os yahoos europeus. Aproximei-me o mais possível da costa e escondi-me num penhasco junto ao arroio cuja água, como disse, era deliciosa.

O barco aproximou-se a menos de meia-légua a leste do arroio e lançou uma chalupa carregada de barricas para aprovisionamento de água potável (pelos vistos, o lugar era muito conhecido).





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