O comandante era solteiro e tinha apenas três criados. A nenhum foi permitido servir à mesa. O seu comportamento global era tão bondoso, a sua compreensão de tão elevada qualidade humana, que comecei verdadeiramente a suportar a sua companhia. A sua influência sobre mim chegou ao ponto de me atrever a olhar através da janela do jardim. Depois, de forma muito gradual, levou-me para outro aposento de onde contemplei a rua, mas voltei a cabeça horrorizado. Ao fim de uma semana conseguira que descesse à porta da rua. Verifiquei que o meu espanto diminuía progressivamente, ainda que o meu asco e desprezo parecessem aumentar. Por fim, aventurei-me a acompanhá-lo pela rua, embora levasse o nariz cuidadosamente tapado com tabaco e plantas aromáticas.
Ao fim de dez dias, dom Pedro, a quem expusera em síntese a minha situação familiar, mostrou-me que a minha honra e consciência impunham que regressasse ao país natal e fosse para o meu lar, onde se encontravam a minha mulher e os filhos. Disse-me que no porto havia um barco inglês prestes a zarpar e que ele me ajudaria em tudo o que fosse necessário. Não tem interesse para aqui descrever a insistência com que argumentou e insistência com que levantei objecções. Respondeu-me que era absolutamente impossível que eu encontrasse a ilha deserta por que ansiava para nela acabar os meus dias. Mas em minha casa seria o amo e poderia levar a vida recolhida que quisesse.
Acabei por ceder, pensando ser a melhor solução. A 24 de Novembro abandonava Lisboa a bordo de um barco mercante inglês, sem sequer indagar o nome do comandante.