A Linha de Sombra - Cap. 2: I Pág. 27 / 155
Por mim, começava a sentir profunda compaixão por ele. E comuniquei-lhe, num tom de voz que despi o mais que pude d? notas sarcásticas, o meu contentamento por o ver descobrir uma coisa que sempre lhe permitia ocupar os pensamentos ao longo daquela manhã.
Ele fez-me então notar, com a simplicidade desarmante que lhe era peculiar, e como se se tratasse de um caso de relevo, que era bastante estranho o facto de ter ficado metido em casa durante a manhã. De um modo geral, encontrava-se na rua antes do tiffin, visitava alguns escritórios, encontrava-se com os seus amigos no porto, e assim por diante. Ao levantar-se, achara-se um tanto indisposto. Não multo; apenas um pouco quebrado, sentindo-se preguiçoso.
Todas estas palavras eram acompanhadas de um olhar fixo, constante, que não largava, e que, combinando-se com a futilidade do seu discurso, sugeria uma impressão de loucura desolada e mansa. E quando fez um breve movimento mais brusco na cadeira, descendo a voz para um diapasão quase surdo de mistério, veio-me à cabeça num relâmpago a ideia de que uma reputação profissional de alto nível não é prova necessária de saúde mental.
Não me ocorreria nunca nessa altura que de facto eu Ignorava em que consiste a saúde mental e como se trata de uma questão melindrosa, apesar de, se considerada em termos gerais, sem importância de maior. Com a vaga intenção de não o ofender, pisquei-lhe os olhos, como se expressasse o meu interesse. No entanto, quando capitão continuou, perguntando-me em tom enigmático se me lembrava ainda do que acabara de passar-se há pouco entre o nosso despenseiro e «aquele homem, Hamilton», limitei-me a uma afirmativa gutural e virei a cara para o outro lado.