Tudo o que conseguira fazer foi afastar a ordenança com um movimento da mão. A ordenança pusera-se então a andar de um lado para o outro, ao longo da varanda, deparando assim com o capitão Giles que, por uma coincidência extraordinária, estava ali nessa altura...
Neste ponto, interrompeu a sua narração por meio de um olhar sem fundo. A carta, prosseguiu depois, estava endereçada ao despenseiro. Pois bem, para que havia de escrever o capitão do porto ao despenseiro? Este último, de facto, dirigia-se todas as manhãs à capitania, levando o seu relatório e trazendo instruções ou ordens relativas a uma série de outras pequenas coisas. Voltara da capitania nessa manhã não havia ainda meia hora e já uma ordenança ali estava à sua procura, com um ofício. Que estaria a passar-se?
O meu companheiro começava a entrar no capítulo das conjecturas. Não era por isto ou aquilo também não era possível que fosse por certo outra coisa… E para uma outra, era impensável...
A complicação inútil daquelas histórias fazia-me arregalar os olhos. Se o homem não fosse uma figura bastante simpática, eu teria acabado por me sentir ofendido. Mas orno era simpático, apesar de tudo, limitei-me a sentir pena dele. Também uma indefinida gravidade patente no seu olhar me impediu de lhe rir na cara. E não abri a boca. Fiquei simplesmente a olhá-lo sem desviar a vista.
As suas palavras foram-se tornando subtilmente mais enigmáticas. Logo que o outro (tratava-se do despenseiro) receberão o ofício, correra a buscar o chapéu e saíra de casa com a rapidez de uma flecha. Mas não era que tivesse sido notificado para comparecer na capitania. Não foi para aí que realmente se dirigiu. Não estivera fora durante o tempo suficiente para tal. Voltara como uma seta, tirara rapidamente o chapéu e pusera-se a correr de um para outro lado, na casa de jantar, batendo na testa com a mão aberta.
