JUKES ERA UM homem tão capaz como qualquer dessa meia dúzia de oficiais de marinha que se podem apanhar lançando uma rede ao mar; e embora tivesse ficado um tanto surpreendido com a espantosa violência da primeira rajada de vento, tinha-se dominado imediatamente, chamara os marinheiros e mandara-os logo vedar todas as aberturas no tombadilho que não tivessem já sido hermeticamente fechadas durante a tarde. Gritando na sua voz jovem, estentórea, «Vamos rapazes, dêem uma ajuda!», dirigiu o trabalho, dizendo ao mesmo tempo para consigo que «já estava à espera disto».
Mas ao mesmo tempo ia tomando consciência de que isto era afinal muito mais do que tudo aquilo que ele esperara. Desde a primeira lufada de ar recebida na face a ventania parecia ir adquirindo o ímpeto acumulado de uma avalancha. Pesadas surridas envolviam o Nan-Shan da proa à popa, e imediatamente no meio do seu balanço regular ele começou a sacudir-se e a mergulhar como se tivesse enlouquecido de medo.
«Isto não é brincadeira nenhuma», pensou Jukes.
Enquanto ele e o capitão se explicavam aos gritos, um súbito abaixamento da escuridão desceu sobre a noite, caindo diante dos olhos deles como algo de palpável. Era como se as luzes escondidas do mundo se tivessem apagado. Jukes sentia-se sem dar por isso feliz por ter o capitão ao seu lado. Aquilo aliviava-o como se o outro lhe tivesse, pelo simples facto de aparecer no convés, tirado a maior parte do peso da tempestade de cima dos ombros. É esse o prestígio, o privilégio e o fardo do comando.
O capitão MacWhirr não podia esperar qualquer espécie de auxílio de quem quer que fosse neste mundo. É essa a solidão do comando. Ele estava a tentar ver, com aquela maneira vigilante de um marinheiro que fita o vento como se fossem os olhos de um adversário, para penetrar a sua intenção oculta e calcular a direcção e a força do ataque.