Alice e as irmãs eram crianças tipicamente inglesas, criadas no ambiente inglês da nursery, onde as amas contavam histórias absurdas, poesias aparentemente sem nexo, que todas as crianças inglesas sabiam de cor. Era a esse absurdo que Alice se referia, ao pedir a Dodgson uma história com muita «maluquice».
E ele começa a história de imediato, enquanto vai remando, nessa tarde quente de Julho. Muitas vezes, durante o passeio, fez tenção de acabar: «E o resto fica para outro dia.» Mas as três meninas nunca o deixaram pôr ponto final na história, e exigiram sempre mais. Eram oito e meia da noite quando, finalmente, voltaram para casa.
Antes de se deitar Charles Dodgson tomou nota da história que tinha contado à sua amiguinha Alice Liddell e, dotado de uma memória extraordinária, escreveu-a quase tal qual a tinha dito. E deu-lhe o título de As Aventuras de Alice debaixo da Terra.
Só dois anos mais tarde, ao voltar a lê-la, lhe veio a ideia de a publicar. Mudou-lhe o título para «Alice's Adventures in Wonderland», modificou alguma coisa, aumentou vários capítulos (o conto original era, sensivelmente, metade do que veio a ser um livro), inventou personagens, e entregou à editora. Ao texto se juntaram as ilustrações de Sir John Tenniel que obedeceu a todas as indicações que Dodgson lhe ia dando («Alice é uma criatura de fronte pura, alta, com olhos sonhadores e maravilhosos»), menos a uma: Alice era morena, e Tenniel resolveu desenhá-la loira... No final, Dodgson assina o livro com o pseudónimo de Lewis Carroll.
Quando o livro sai, no Natal de 1865, o reverendo Charles Lurwidge Dodgson, professor de Matemática, tinha-se transformado no escritor Lewis Carroll, e por esse nome iria ser, a partir daí, conhecido no mundo inteiro.