Ríqui esquecera-se do ovo, que estava ainda na varanda, e Nagaína foi-se aproximando cada vez mais dele, até que por fim, enquanto o mangusto respirava, tomou-o na boca, voltou-se para os degraus da varanda e voou como uma flecha caminho abaixo, com Ríqui-Tíqui logo atrás, Quando a cobra foge pela vida, vai como um chicote brandido sobre o cachaço de um cavalo.
Ríqui-Tíqui sabia que tinha de apanhá-la, senão a guerra-fria havia de recomeçar. Ela dirigiu-se a direito para a erva alta junto do espinheiro, e, ao correr, Ríqui-Tíqui ouviu ainda Darzi a cantar o seu ridículo canto triunfal. Mas a mulher de Darzi era mais esperta. Saiu do ninho a voar, quando Nagaína se aproximava, e bateu as asas perto da cabeça da cobra. Se Darzi tivesse ajudado, talvez a fizessem desviar, mas Nagaína apenas baixou o capelo e prosseguiu. Todavia, a demora instantânea permitiu que Ríqui-Tíqui a alcançasse, e quando ela se enfiou no ninho de rato onde, com Nague, vivia, já ele lhe tinha cravado na cauda os dentinhos brancos, e desceu com ela - muito poucos mangustos, por astutos e velhos que sejam, se arriscam a seguir uma cobra para o seu ninho. O buraco estava escuro, e Ríqui-Tíqui não sabia onde ele alargaria e daria espaço a
Nagaína para se voltar e agredi-lo. Ele aferrou-se tenazmente e estendeu as patas para fora, a servirem de travão, na descida escura da terra quente e húmida.
Depois a erva, à entrada do buraco, deixou de agitar-se, e Darzi gemeu:
- Tudo acabou para Ríqui-Tíqui! Temos de lhe entoar o canto fúnebre.