Tudo isto vos mostrará quanto Máugli tinha de aprender de cor, e ele aborrecia-se deveras a repetir a mesma coisa mais de uma centena de vezes; mas, como Bálu dissera um dia a Bàguirà depois de esbofetear Máugli, que fugira zangado:
- Um cachorro de homem é cachorro de homem e precisa de aprender toda a Lei da Selva.
- Mas lembra-te de como ele é pequeno - disse a pantera negra, que teria estragado Máugli de mimo, se a deixassem. - Como poderá ele reter tudo o que dizes naquela pequenina cabeça? - Há po~ acaso, na Selva, coisa tão pequena que se não possa matar? Não. E por isso que lhe ensino estas coisas, e é por isso que lhe bato, com brandura, quando se esquece.
- Com brandura! Que sabes tu de brandura, velho «patas de ferro»? - resmungou Bàguirà. - Hoje traz a cara toda ferida pela tua brandura. Irra!
- Mais vale que ele seja ferido da cabeça aos pés por mim, que o amo, do que se perca por ignorância -respondeu Bálu muito sério. - Ando agora a ensinar-lhe as palavras-mestras da Selva que o hão-de proteger entre as aves, as serpentes e todos os caçadores de quatro patas, excepto a sua própria alcateia. Pode agora requerer protecção a toda a Selva, contanto que se lembre das palavras. Isso não valerá umas sapatadinhas?
- Pois então tem cautela, não mates o cachorro de homem.
Não é tronco de árvore para tu afiares as garras.