O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 25 / 158

Nenhum dos seres da Selva gosta de ser incomodado e todos se atiram prontamente a um intruso. Depois Máugli aprendeu também o grito de caça do forasteiro, que tem de se repetir com força até obter resposta, todas as vezes que um dos moradores da Selva caça fora do seu próprio terreno. Quer dizer em tradução: «Dai-me licença de caçar aqui, porque tenho fome.» E a resposta é: «Caça então para comer, mas não por prazer.»

Tudo isto vos mostrará quanto Máugli tinha de aprender de cor, e ele aborrecia-se deveras a repetir a mesma coisa mais de uma centena de vezes; mas, como Bálu dissera um dia a Bàguirà depois de esbofetear Máugli, que fugira zangado:

- Um cachorro de homem é cachorro de homem e precisa de aprender toda a Lei da Selva.

- Mas lembra-te de como ele é pequeno - disse a pantera negra, que teria estragado Máugli de mimo, se a deixassem. - Como poderá ele reter tudo o que dizes naquela pequenina cabeça? - Há po~ acaso, na Selva, coisa tão pequena que se não possa matar? Não. E por isso que lhe ensino estas coisas, e é por isso que lhe bato, com brandura, quando se esquece.

- Com brandura! Que sabes tu de brandura, velho «patas de ferro»? - resmungou Bàguirà. - Hoje traz a cara toda ferida pela tua brandura. Irra!

- Mais vale que ele seja ferido da cabeça aos pés por mim, que o amo, do que se perca por ignorância -respondeu Bálu muito sério. - Ando agora a ensinar-lhe as palavras-mestras da Selva que o hão-de proteger entre as aves, as serpentes e todos os caçadores de quatro patas, excepto a sua própria alcateia. Pode agora requerer protecção a toda a Selva, contanto que se lembre das palavras. Isso não valerá umas sapatadinhas?

- Pois então tem cautela, não mates o cachorro de homem.

Não é tronco de árvore para tu afiares as garras.





Os capítulos deste livro