– Aqui tem a carta, minha boa amiga. Faça muito por não vir sem resposta – disse Simão, dando-lhe com a carta um embrulho de dinheiro.
– E o dinheiro também é para a senhora? – disse ela.
– Não, é para si, Mariana: compre um anel. Mariana tomou a carta e voltou rapidamente as costas, para que Simão lhe não visse o gesto de despeito, se não desprezo.
O académico não ousou insistir, vendo-a apressar-se na descida para o quinteiro, onde o ferrador enfreava a égua.
– Não lhe chegues muito com a vara – disse João da Cruz a Mariana, que, dum pulo, se assentou no albardão, coberto duma colcha escarlate.
– Tu vais amarela como cidra, moça! – exclamou ele, reparando na palidez da filha. – Tu que tens?
– Nada; que hei-de eu ter?! Dê-me cá a vara, meu pai.
A égua partiu a galope, e o ferrador, no meio da estrada, a rever-se na filha e na égua, dizia em solilóquio, que Simão ouvira:
– Vales tu mais, rapariga, que quantas fidalgas tem Viseu! Pela mais pintada não dava eu a minha égua; e, se cá viesse o Miramolim de Marrocos pedir-me a filha, os diabos me levem se eu lha dava! Isto é que são mulheres, e o mais é uma história!