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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 68

Mariana estava ali; ouvira a confidência, e achara acertada a opinião de seu pai. Vendo, porém, a impaciência do hóspede, pediu licença para falar onde não era chamada, e disse:

– Se o senhor Simão quer, eu vou à cidade, e procuro no convento a Brito, que é uma rapariga minha conhecida, moça duma freira, e dou-lhe uma carta sua para entregar à fidalga.

– Isso é possível, Mariana? – exclamou Simão, a ponto de abraçar a moça.

– Pois então! – disse o ferrador. – O que pode fazer-se, faz-se. Vai-te vestir, rapariga, que eu vou botar o albardão à égua.

Simão sentou-se a escrever. Tão embaralhadas lhe acudiam as ideias, que não atinava a formar o desígnio mais proveitoso à situação de ambos. Ao cabo de longa vacilação, disse a Teresa que fugisse, à hora do dia, quando a porta estivesse aberta, ou violentasse a porteira a abrir-lha. Dizia-lhe que marcasse ela a hora do dia seguinte em que ele a devia esperar com cavalgaduras para a fuga. Em recurso extremo, prometia assaltar com homens armados

o mosteiro, ou incendiá-lo para se abrirem as portas. Este programa era o mais parecido com o espírito do académico. Em vivo fogo ardia aquela pobre cabeça! Fechada a carta, começou a passear em torcicolos, como se obedecesse a desencontrados impulsos. Encravava as unhas na cabeça, e arrancava os cabelos. Investia como cego contra as paredes, e sentava-se um momento para erguer-se de mais furioso ímpeto. Maquinalmente aferrava das pistolas, e sacudia os braços vertiginosos. Abria a carta para relê-la, e estava a ponto de rasgá-la, cuidando que iria tarde, ou não lhe chegaria às mãos. Neste conflito de contrários projectos, entrou Mariana, e muito alucinado devia estar Simão para lhe não ver as lágrimas.

O que tu sofrias, nobre coração de mulher pura! Se o que fazes por esse moço é gratidão ao homem que salvou a vida a teu pai, que rara virtude a tua! Se o amas, se por lhe dar alívio às dores, tu mesma lhe desempeces o caminho por onde te ele há-de fugir para sempre, que nome darei ao teu heroísmo?! Que anjo te fadou o coração para a santidade desse obscuro martírio?!

– Estou pronta – disse Mariana.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 68

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139