Mas as coisas eram diferentes no nosso país. Minha mãe foi condenada por via de determinado roubo insignificante, que quase nem vale a pena mencionar - apropriou-se de três peças de bom linho cru decerto vendedor de panos de Cheapside em circunstâncias que seria moroso repetir e que tenho ouvido contar de tantas maneiras que mal sei qual é a verdadeira.
Contudo, e nisso todos concordam, minha mãe alegou gravidez e, verificando-se que estava prestes a dar à luz, concederam-lhe uma suspensão temporária da pena de cerca de sete meses. Entretanto trouxe-me ao mundo, recompôs-se e foi chamada a cumprir a sentença, mas obteve o benefício de ser deportada para as plantações e deixou-me com cerca de seis meses e, podeis crer, em más mãos.
Tudo isto se passou tão próximo das primeiras horas da minha vida que só poderei aludir a esses factos baseada no que ouvi dizer; basta mencionar, contudo, que, por ter nascido em lugar tão desgraçado, não tinha paróquia a que recorrer, para me alimentar na infância, e nem sei explicar como sobrevivi, a não ser que, segundo me disseram, uma parente qualquer de minha mãe tomou conta de mim, durante algum tempo, embora ignore a expensas ou por ordem de quem.
A primeira coisa que me lembro de saber de mim mesma foi de vaguear entre uma tribo daquelas pessoas a que chamam ciganos, ou egípcios. Devo tê-los acompanhado durante muito pouco tempo, porém, pois não me descobriram ou escureceram a pele, como fazem, em pequeninas, a todas as crianças que os acompanham. Também não sei explicar como fui parar ao meio deles nem como os abandonei.
Foi em Colchester, no Essex, que me deixaram, embora tenha a vaga ideia de que fui eu que os abandonei (isto é, que me escondi, por não querer acompanhá-los mais); mas não posso ser concludente a este respeito.
