O Crime do Padre Amaro - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 221 / 478

Contou então, prolixamente, a sua história desde a publicação do Comunicado; leu, muito comovido, a carta de Amélia; descreveu a cena ao pé do Arco... Ali estava agora, escorraçado da Rua da Misericórdia por obras do senhor pároco! E parecia-lhe a ele, apesar de não ser formado em Coimbra, que contra um padre que se introduzia numa família, desinquietava uma menina simples, levava por intrigas a romper com o noivo e ficava de portas adentro senhor dela - devia haver leis!

- Eu não sei, senhor doutor, mas deve haver leis!

O doutor Godinho parecia contrariado.

- Leis! exclamou traçando vivamente a perna. Que leis quer você que haja? Quer querelar do pároco?... Por quê? Ele bateu-lhe? Roubou- lhe o relógio? Insultou-o pela imprensa? Não. Então?...

- Oh, senhor doutor, mas intrigou-me com as senhoras! Eu nunca fui homem de maus costumes, senhor doutor! Caluniou-me!

- Tem testemunhas?

- Não, senhor.

- Então?

E o doutor Godinho, assentando os cotovelos sobre a banca, declarou que, como advogado, não tinha nada a fazer. Os tribunais não tomavam conhecimento dessas questões, desses dramas morais por assim dizer, que se passavam nas alcovas domésticas... Como homem, como particular, como Alípio de Vasconcelos Godinho, também não podia intervir porque não conhecia o Sr. padre Amaro, nem essas senhoras da Rua da Misericórdia... Lamentava o fato, porque enfim fora novo, sentira a poesia da mocidade, e sabia (infelizmente sabia!) o que eram esses transes do coração... E ai está tudo o que ele podia fazer - lamentar! Também para que tinha ele dado a sua afeição a uma beata?...

João Eduardo interrompeu-o:

- A culpa não é dela, senhor doutor! A culpa é do padre que a anda a desencaminhar! A culpa é dessa canalha do cabido!





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