O Estranho Caso de Benjamin Button - Cap. 3: III Pág. 12 / 38

e ele passou uma tarde atormentado, com as articulações emperradas, a tentar interessar-se por piões e berlindes conseguiu até, inteiramente por acaso, partir o vidro da janela de uma cozinha com uma pedra disparada por uma fisga, proeza que deliciou, secretamente, o seu pai.

Daí em diante, Benjamin foi capaz de partir qualquer coisa todos os dias, mas fazia-o apenas por ser isso que esperavam dele e por ser prestável por natureza.

Quando o antagonismo inicial do avô desapareceu, Benjamin e esse cavalheiro passaram a encontrar enorme prazer na companhia mútua. Esses dois, tão distantes um do outro em idade e experiência, sentavam-se juntos horas a fio e, como velhos compinchas, discutiam com incansável monotonia as lentas ocorrências quotidianas. Benjamin sentia-se mais à vontade na presença do avô do que na dos pais - estes pareciam sempre um tanto ou quanto temerosos dele e, apesar da autoridade ditatorial que exerciam sobre o filho, tratavam-no com frequência por «Senhor».

Ele sentia-se tão intrigado como qualquer outra pessoa com a idade aparentemente avançada do seu corpo e do seu cérebro ao nascer. Leu a esse respeito no jornal médico, mas descobriu que nunca antes fora noticiado caso algum como o seu. Por insistência do pai fazia um esforço sincero para brincar com outros rapazes e participava frequentemente nos jogos menos violentos - o futebol abalava-o demais e ele temia que, se sofresse uma fractura, os seus velhos ossos recusassem a unir-se de novo.

Quando tinha cinco anos mandaram-no para o jardim infantil, onde foi iniciado na arte de colar papel verde sobre papel cor de laranja, desenhar mapas coloridos e fazer infindáveis colares de cartão. Tinha tendência para dormitar e adormecer no meio dessas tarefas, hábito que, simultaneamente, irritava e assustava a sua jovem professora.





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