O Grande Gatsby - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 142 / 173

Procurou, por isso, tirar o máximo partido do tempo. Conseguiu de Daisy o que pôde, com voracidade e sem escrúpulos - até que a possuiu mesmo numa calma noite de Outubro, e fê-lo porque não tinha direito sequer a tocar-lhe na mão.

Podia ter-se desprezado, porque a havia possuído; sem dúvida, sob falsas pretensões. Não quero, com isto, dizer que tivesse especulado com o fantasma dos seus milhões, mas tinha; deliberadamente, dado a Daisy um sentimento de segurança; levou-a a acreditar que provinha do mesmo estrato social - que reunia todas as condições para cuidar dela. Quando, na realidade, não tinha tais facilidades - nem sequer uma família abastada a apoiá-lo - e estava sujeito a que, por qualquer capricho de um governo impessoal, o atirassem para qualquer recanto do mundo.

A verdade é que não se desprezou e o resultado disso não foi o que ele imaginara. Planeara, provavelmente, aproveitar-se dela quanto pudesse e partir - mas cedo descobriu que se tinha comprometido a perseguir um novo Graal. Sabia que Daisy era excepcional, mas não exactamente a que ponto podia uma rapariga «decente» ser excepcional. E assim foi que ela desapareceu na sua opulenta mansão, naquela existência de riqueza e plenitude, deixando a Gatsby - nada. Sentiu-se casado com ela e é tudo.

Quando, dois dias depois, voltaram a encontrar-se, era Gatsby que arquejava, não ela, era ele que, de certo modo, se sentia traído. O pórtico da casa dela brilhava do luxo das estrelas compradas a peso de oiro; o canapé de vime rangeu elegantemente quando ela se voltou para ele, dando-lhe a beijar a curiosa e adorável boca. Ela estava constipada, o que lhe tornava a voz mais rouca e encantadora que nunca, e Gatsby estava absolutamente consciente da juventude e do mistério que a riqueza aprisiona e preserva, da frescura de roupa em abundância e de Daisy, a cintilar como prata, segura e altiva, muito acima das duras lutas dos pobres.





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