O Grande Gatsby - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 152 / 173

- Aaaah!...

Recomeçou a balouçar-se e Michaelis torcia a trela nas mãos.

- Tem algum amigo a quem eu possa telefonar, George?

- Era uma esperança perdida - estava quase certo de que Wilson não tinha amigos: se nem para a mulher ele chegava!... Ficou contente quando, passado pouco tempo, notou uma alteração na sala: a janela azulava-se mais rapidamente, sinal de que a alvorada não vinha longe. Por volta das cinco horas, já estava suficientemente claro para se apagar as luzes.

Os olhos vidrados de Wilson voltaram-se para os montes de cinzas, onde pequenas nuvens cinzentas assumiam formas fantásticas; deslocando-se para aqui e para ali, ao sabor da leve brisa da madrugada.

- Eu disse-lhe - murmurou após um longo silêncio. Disse-lhe que a mim podia ela enganar, a Deus é que não. Levei-a até à janela -levantou-se com esforço, foi até à janela e encostou a cara à vidraça - e disse-lhe: «Sabe Deus por onde tens andado, só Ele sabe o que tens feito! A mim podes tu enganar, mas a Deus não enganas tu!»

De pé, atrás dele, Michaelis apanhou um susto ao ver que ele fixava o olhar nos olhos do doutor T. J. Eckleburg, que acabava de surgir, pálido e enorme, da noite que se desvanecia.

- Deus vê tudo! - repetiu Wilson.

- Mas aquilo é um reclamo luminoso! - assegurou-lhe Michaelis.

Alguma coisa o fez afastar-se da janela e olhar para dentro do escritório. Mas Wilson ficou ali muito tempo, de cara colada à vidraça a acenar no crepúsculo.

Por volta das seis, Michaelis estava exausto e sentiu-se grato ao ouvir um carro parar à porta. Era um dos acompanhantes de Wilson, da noite anterior, que prometera voltar, e Michaelis preparou um pequeno-almoço para três, que só ele e o outro tomaram. Wilson já estava mais calmo e Michaelis foi para casa dormir; quando, quatro horas depois, acordou e correu para a garagem, Wílson tinha desaparecido.





Os capítulos deste livro