Tudo o que havia lá dentro era uma trela, pequena mas de luxo, feita de couro e prata entrançada. Ao que parecia, era nova.
- É isto? - perguntou levantando-a no ar. Wilson fixou-a e aquiesceu.
- Descobri-a ontem à tarde. Ela tentou justificar-se, mas eu percebi que aí havia coisa.
- Quer dizer que a sua mulher a comprou às escondidas?
- Tinha-a em cima da cómoda, embrulhada em papel de seda.
Michaelis não viu nada de estranho no facto e deu a Wilson uma dúzia de razões pelas quais a sua mulher podia ter comprado aquela trela. Mas é de conceber que Wilson tivesse já ouvido algumas delas directamente da boca de Myrtle, porque recomeçou a gemer: «Oh, meu Deus!», em tom de murmúrio, e as outras razões de Michaelis ficaram no ar.
- E no fim matou-a! - disse-lhe Wilson. De repente, o queixo descaiu-lhe e ficou de boca aberta.
- Mas quem é que a matou?
- Tenho uma maneira de descobrir.
- Você é mesmo mórbido, George! - disse-lhe o amigo. - Você sofreu um grande abalo com isto e não sabe o que está a dizer. É melhor tentar sossegar até o dia romper.
- Ele assassinou-a!
- Mas foi um acidente, George!
Wilson sacudiu a cabeça. Os olhos semicerraram-se-lhe e com a boca entreaberta deixou escapar um «hum!» profundo, de quem sabe o que diz.
- Eu sei! - afirmou, peremptório. - Sou um desses tipos que acreditam nas pessoas, incapaz de fazer mal a quem quer que seja, mas, quando me cheira a esturro, vou até ao fim. Foi o homem que ia no carro. Ela saiu a correr para lhe falar e ele passou-lhe por cima!
Michaelis tinha visto isso, mas não lhe ocorrera que houvesse aí um significado especial. Julgou que a senhora Wilson ia a fugir do marido e não a mandar parar um carro particular.
- Como é que ela podia ser dessa laia?
- Era cá duma força! - disse Wilson, como se assim respondesse à pergunta.