Noites Brancas - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 10 / 67

— Porquê? Porquê? Talvez porque estava só, porque aquele cavalheiro era demasiado atrevido, por ser de noite: tem de reconhecer que não podia fazer outra coisa, que era o meu dever. ..

— Não, não. Refiro-me a momentos antes, junto da muralha. Não é verdade que tinha já nessa altura a intenção de me abordar?

— Junto da muralha? Mas, na realidade, nem sei como lhe responder, temo... Sabe? Hoje sentia-me feliz, caminhava, cantava, tinha ido até aos arrabaldes, nunca vivera horas de tanta alegria. E a menina... talvez tenha sido só impressão minha... enfim, desculpe-me se lho recordo, mas tive a impressão de que chorava, e então eu... não suportei tal coisa... o coração apertou-se-me... Meu Deus, não teria acaso o direito de me entristecer por sua causa? Terá sido pecado experimentar por si uma fraterna compaixão?... Desculpe, eu disse «compaixão»... Em. suma, para terminar, tê-la-ei ofendido por me ter ocorrido in voluntariamente a ideia de me dirigir a si?...

— Deixe! Basta! Não continue...— interrompeu, baixando a cabeça e apertando-me a mão.—Fui eu quem andou mal em lhe ter falado nisto... Mas sinto-me feliz por não me ter enganado a seu respeito... Chegámos já perto da minha casa, é ao fundo desta rua, a dois passas daqui... Adeus, estou-lhe muito grata...

— Então é possível? Será possível que não nos voltemos a ver... Tudo ficará por aqui?

— Está a ver? — respondeu, rindo-se. — Primeiro só queria duas palavras, e agora... Mas, de facto, não lhe direi adeus... Pode ser que nos voltemos a encontrar...

— Virei amanhã. Oh, desculpe-me, eis-me já a exigir.





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