Noites Brancas - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 8 / 67

— Sim, a minha mão treme, pois nunca nela se apoiou uma tão linda mãozinha... Perdi completamente o hábito de lidar com mulheres; isto é, nunca tive esse hábito... Bem vê, vivo só. Nem sei como se Ihes deve falar. Olhe, ainda agora, consigo, não sei se já lhe disse alguma tolice. Se assim aconteceu, diga-mo francamente, pois aviso-a de que não sou susceptível...

— Não, não disse qualquer tolice, antes pelo contrário. E se na verdade quer que lhe seja sincera, pois bem, dir-lhe-ei que as mulheres apreciam essa timidez. E se ainda quer que vá mais longe, digo-lhe que não fujo à regra e que não o despedirei até me ter acompanhado a casa.

— Dada a maneira como me está a tratar — comecei, anelante de entusiasmo —, deixarei agora mesmo de ser tímido e, então, adeus todas as minhas vantagens!...

— As suas vantagens? Mas quais vantagens? Isso é que já não está bem.

— Perdão, não insistirei. A palavra escapou-se-me. Mas como quer que num momento como este não tenha o desejo de. . .

— De agradar, talvez?

— É isso mesmo! Mas, por amor de Deus, seja benévola! Tente compreender-me. Tenho já vinte e seis anos, bem vê, e nunca me relacionei com ninguém. Assim, como quer que fale como deve ser, com à-vontade e oportunamente? Será melhor para ambos se falarmos com sinceridade... Quando o meu coração fala, a minha boca não se sabe calar. Bem, mas é a mesma coisa.. Poderá acreditar-me? Nem uma mulher, nunca, nunca! Nem sequer um amigo! Apesar disso, todos os dias sonho que, finalmente, tarde ou cedo, encontrarei alguém. Ah, se soubesse quantas vezes me apaixonei desta maneira!

— Mas como? Por quem se apaixonou então?





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