As Máscaras do Destino - Cap. 4: OS MORTOS NÃO VOLTAM Pág. 20 / 80

um soluço abafado, como se uma onda se tivesse quebrado ali mais perto de nós; voltei-me negligentemente como para poisar o cigarro numa mesinha que estava atrás de mim; não vi ninguém, a não ser a Lídia de Vasconcelos que tranquilamente mordiscava um cravo branco. Quando a voz se calou no arrastar dos últimos versos:

E a taça lá vai boiando
Por sobre as águas do mar...

Fez-se um silêncio que nenhum de nós ousava ser o primeiro a quebrar. Sobressaltou-nos, numa impressão desagradável, a voz roufenha, monótona, do Robert, que num tom perentório, num tom todo britânico, teimosamente preso à sua ideia, reatava o fio da discussão interrompida: “Os mortos voltam.”

«A doce Senhora L. não pôde conter um sorriso. Aquele sorriso, naquela ocasião, vinha sublinhar a sua opinião sobre os Ingleses, opinião que eu conhecia e que achava de uma injustiça flagrante; mas vão lá convencer as mulheres da injustiça de uma opinião que elas criaram sozinhas!

«A discussão acendeu-se outra vez. Ravara deitou novamente fogo às peças de artifício do seu espírito brilhante. O riso de Madame V. ecoou mais cristalino na noite pura...

«Foi então que, cie novo, chegou aos meus ouvidos o eco abafado de um soluço. Não havia dúvida, tinha sido um soluço. Voltei-me rapidamente. A Lila continuava a mordiscar o seu cravo branco, mas, olhando-lhe as mãos, compreendi tudo num relance: tremiam como as asas de uma avezinha presa.

«O coração apertou-se-me cheio de uma imensa piedade por aquele tristíssimo destino da rapariga. “Vocês sabem a história... talvez”, disse ele voltando-se para o grupo que o escutava, e, a um sinal negativo do rapaz de monóculo: “Não? A Lídia estava noiva de um seu camarada, Álvaro Bacelar”, disse ele a um oficial da





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