Quanto tempo durou aquele beijo? Quanto tempo passou depois? Uma hora? Um segundo?... Mário de Meneses nunca o soube dizer. O tempo não é de todos os mundos; o sobrenatural não tem lógica nem limites.
Quando os dois rapazes acordaram, o cigarro perfumado acabava de se consumir no cinzeiro de cristal.
Paulo Freitas, espreguiçando-se, bocejando a ponto de quase desarticular os queixos, com o irrepreensível monóculo entalado na pálpebra, foi acordar com um beijo uma das raparigas. Castro Franco fez o mesmo à outra, depois de escorripichar um último cálice de Porto.
A Gatita Blanca, os olhos esverdeados semicerrados, a boca entreaberta num misterioso sorriso, esperava.
Então, Mário de Meneses, perante o olhar atónito dos dois camaradas e o assombro das raparigas, abriu a porta de repente e desapareceu...
E nunca se soube, nunca talvez se saberá a razão porque um homem desdenhara desassombradamente o seu invejado direito, cobiçado por uma cidade inteira, de se deitar, naquele resto de noite, entre os linhos e as rendas do sumptuoso leito da bela e misteriosa Gatita Blanca.