As Máscaras do Destino - Cap. 6: A PAIXÃO DE MANUEL GARCIA Pág. 39 / 80

Era uma rapariguita travessa e estouvada, alegre como um céu de Abril; corria pelo jardim como uma corça selvagem, tranças loiras como uma cascata de oiro pelas costas; dava uns gritos agudos como um pardalinho novo que está contente com a vida mas que não sabe cantar; as suas gargalhadas eram frescas como o riso de um regato a descer um monte. Aos olhos de Manuel Garcia, Maria del Pilar, no seu jardim, no meio das amigas, era assim como um sol a iluminar os seixos escuros e desprezíveis das estradas. Que loucura!

E em tantos, tantos anos, nunca a loira fidalguinha olhara para ele. Não, ele não se lembrava de um só olhar, de sentir poisados nos dele uma só vez, de fugida, aqueles grandes olhos verdes-claros que o endoideciam de amor! Se ela tivesse olhado para ele ao menos uma vez na sua vida! Mas não... no seu mesquinho tesouro de apaixonado, não encontrava nada, por mais que procurasse, por mais que remexesse, que se assemelhasse ao doce fulgor de duas límpidas esmeraldas claras. Esse prodígio, esse milagre, não se dera nunca! Um olhar! Mas se ele tivesse achado, no seu mesquinho tesouro de apaixonado, um só olhar de Maria del Pilar, não estaria decerto ali rígido, inerte, gelado!

O seu mesquinho tesouro continha apenas as parcelas de oiro do seu riso, o encanto do seu alado pisar de alvéloa, a embriaguez do seu perfume, a cor dos seus vestidos, o deslumbramento da sua presença, da sua recordação intangível e sagrada, do seu ser, dela, Maria del Pilar, princesinha loira, que, com as suas mãos de boneca, o empurrara para a cova sem o saber, fizera do rapagão moreno e cheio de vida, que ele era, o trapo que ali jazia insensível e inútil.

De tangível e concreto, apenas uma rosa que ela deixara cair uma manhã na rua. Ia num grupo de rapazes e raparigas; vestida de branco, calçada de camurça branca, os cabelos, de fartos caracóis loiros, cingidos por uma larga fita branca, ia jogar o ténis a um palacete vizinho.





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