As Máscaras do Destino - Cap. 7: O INVENTOR Pág. 52 / 80

O rio sempre era maior que o tanque de outrora...

Quando viu fugir Lisboa, afogada nas sombras violetas do crepúsculo, e se lhe deparou todo o mar na sua frente, a sua alma audaciosa, rubra do sangue a escachoar dos seus irrequietos vinte anos, tomou posse do mundo num olhar de desafio!

Quando voltou, porém, meses depois, vinha desiludido, furioso contra o seu sonho, que se tinha ido quebrar, como todos os sonhos, insulso e embusteiro, de encontro à banalidade ambiente. Aquilo, afinal, era uma maçada, uma tremendíssima maçada! O mar, todo igual, monótono embalador de indolências. Não havia corsários nem piratas; o navio-fantasma era um fantasma dos seus sonhos de outrora. O mar era muito mais lindo nos livros e nos quadros. Os poetas e os artistas tinham-no feito maior do que ele era; afinal, era pequenino como o tanque, acabava ali perto... Não tinha sido preciso arriscar nem uma só parcela de vida; não havia no seu navio mulheres e crianças a salvar; não havia naufrágios heroicos; o capitão nem uma só vez teve ocasião de ir ao fundo, no seu posto, aos vivas a Portugal! E sorria com uma grande ironia nos olhos claros de expressivo olhar de lutador.

Renegou o seu culto sem pesar nem remorsos, com a mais completa das indiferenças, e, de um dia para o outro, o mar que tinha sido a grande quimera da sua ardente imaginação de meridional, que tinha sido a sua noiva, a sua amante nos dias felizes da adolescência, foi atirado para o lado, no gesto negligente de um bebé que atira pela janela fora uma concha vazia.

«Aquilo afinal era uma maçada, uma tremendíssima maçada», e os olhos claros, investigadores, de olhar acerado como o das aves de rapina, procuraram ardentemente outra coisa. Franziu os sobrolhos no ar recolhido e concentrado de quem excogita, de quem procura uma solução difícil.





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